Em toda e qualquer pesquisa de opinião
que se tenha feito no Brasil nos últimos anos para saber em quais áreas o
Estado deve melhorar a atuação, a saúde pública está sempre entre as
três maiores preocupações dos brasileiros.
Aliás, não existe campanha política
neste país que não se sustente no tripé “Saúde, Segurança e Educação”.
Se a saúde pública é preocupação de todo brasileiro e prioridade de todo
político em campanha, por que esse discurso nunca saiu da retórica? Por
que é tão difícil programar uma política de saúde pública séria em
nosso país? Por que tantas pessoas padecem e morrem por falta de
tratamento adequado?
Os governos se sucedem e a saúde é
sempre tratada com descaso. Privilegiam-se os planos de saúde, que
recebem inclusive subsídios federais, enquanto a grande maioria da
população, que não tem acesso a tratamento médico particular, padece nas
intermináveis filas dos “postinhos”.
O atendimento prestado é vergonhoso:
horas na fila para uma consulta feita em linha de produção e que não
dura mais do que cinco minutos, e o trabalhador, coitado, vai perder,
inclusive, mais um dia de seu salário, porque nem mesmo atestado médico
se fornece nas Unidades de Pronto Atendimento – UPAs, mas mera
“declaração de comparecimento”.
A fila para obter uma consulta
especializada é interminável e pode demorar anos, tempo que geralmente o
doente não dispõe. É nesta condição de vulnerabilidade que o cidadão
comum sucumbe ao modelo clientelista vigente e busca, então, o seu
último recurso: o escambo com algum nobre vereador. Barganha-se uma
consulta especializada pelos votos do doente e familiares, garantindo-se
a perpetuação deste modelo podre de se fazer política à custa da
desgraça alheia.
Agora podemos responder a pergunta
anteriormente feita: melhorar a saúde pública no Brasil não é prioridade
do Estado porque a sua precariedade é negócio rentável para os maus
políticos, para a indústria farmacêutica e para os hospitais
particulares especializados. Seguindo essa lógica nefasta, a rede
pública não cuida da saúde, mas sim da doença da população. Somos
especialistas em tratar sequelas das mais variadas.
Em vez de se controlar a pressão
arterial, a obesidade ou o diabetes do cidadão, evitando-se o surgimento
de inúmeras formas de doença, o Estado prefere gastar bilhões de reais
com internações, cirurgias, novas drogas e novas tecnologias caríssimas
para se corrigir aquilo que poderia ter sido evitado com um tratamento
preventivo, muito mais barato e eficaz.
Mas a quem interessa um sistema de saúde
eficaz? Com certeza não interessa à indústria da doença, que mama nas
tetas fartas do SUS. Na verdade não falta dinheiro para a saúde, o que
falta é uma gestão séria, honesta e criteriosa dos recursos públicos.
Grande parte do desperdício do dinheiro da saúde está justamente na má
aplicação feita pelos municípios, que privilegia a doença e não a saúde,
isso sem falar nos desvios de recursos, frutos de um mal que
infelizmente ainda assola o nosso país: a falta de ética e a certeza da
impunidade. E nós, cidadãos comuns, o que podemos fazer?
Nossa
participação é primordial para que se mude essa realidade, e mesmo
diante desse cenário desanimador é preciso que não nos omitamos. Cumpre a
nós, cristãos leigos, que nos engajemos na sociedade, agindo no que for
possível para garantir que todos tenham acesso a um sistema de saúde de
qualidade.
Uma boa forma de ajudar é participando
do Conselho Municipal da Saúde de nossa cidade. Não importa se você
trabalha na área da saúde, ou representa ou não alguma entidade de
classe ou categoria, o que importa é que você participe, discuta e
sugira melhorias, fiscalize, cobre e denuncie os maus serviços.
Lembremo-nos que Deus não nos pede grandes feitos ou atitudes heroicas,
Ele nos pede pequenos gestos. Pequenos, mas comprometidos com o ideal
cristão de vida plena a todos. Peçamos a Maria Santíssima, Mãe de Deus e
Mãe da Igreja, que nos dê coragem e perseverança, e ao Espírito Santo
que nos oriente nesta santa caminhada na busca do bem comum. Trabalhar
pelos necessitados é gesto de amor, e amar o próximo é amar a Deus.
Fonte: Estadão
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