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domingo, 8 de maio de 2016
O Sonho do Rei
Há mais de dois mil anos que aconteceu esta história ou outra parecida com a que eu vou contar. Mais de dois mil de anos depois, vai-se lá saber.
O rei Nabucodonosor, imperador dos caldeus, senhor da Babilônia, conquistador do Líbano, dominador da Fenícia, protector da Judéia, cobria com o seu manto e mando meio mundo. Ou quase...
Os muitos escravos, que trouxera das suas expedições guerreiras, eram a sua ostentação, quando o cortejo real percorria as ruas e alamedas da Babilónia, ladeadas de lanças, ramos de palmeiras e aclamações.
Escolhera-os um por um, de entre os mais jovens, nobres e bem apanhados. Vestidos com túnicas debruadas a ouro, pareciam príncipes. Mas eram escravos.
Um deles, proveniente da Judeia, chamava-se Daniel. Os companheiros devotavam-lhe uma grande amizade e respeitavam-no como o melhor de todos, porque ele era o mais inteligente e o mais generoso.
Aconteceu que, numa manhã tempestuosa, o rei acordou em cólera. Tinha tido um sonho esquisito e apavorante, que se desvanecera, à luz do dia. Do que se tratava? Donde viera? Como findara? Do que se tratava? Donde viera? Como findara? O rei tentava a todo o custo recordar-se, mas sem sucesso.
Estava convencido que o sonho lhe trazia um aviso urgente. Mas qual? Por mais esforços que fizesse, o rei não conseguia lembrar-se.
Mandou chamar os sábios do reino e exigiu-lhes:
- Digam-me que sonho sonhei, na noite passada, e o que significa.
Por mais sábio que se seja, ninguém pode adivinhar os sonhos alheios. Foi isto, tal e qual, o que disseram os sábios.
Enfureceu-se o rei:
- Mando cortar-vos a cabeça se até amanhã, ao raiar do sol, não descobrirem a charada do meu sonho.
Os sábios saíram dos aposentos do rei, de cabeça baixa, como se já a oferecessem ao machado do carrasco.
Durante o dia, não se falou de outra coisa no palácio.
Daniel, condoído com os velhos sábios, pediu ao Deus da sua crença que lhe iluminasse o sono com um sonho igual ao do rei.
Na madrugada seguinte, Daniel, mal acordou, pediu para ser recebido por Nabucodonosor. Trazia-lhe o sonho para contar.
- Vós vistes no vosso sonho uma estátua colossal - começou Daniel.
- Sim, agora me recordo que era uma estátua de um tamanho nunca visto - reconheceu o rei, cheio de atenção.
Daniel prosseguiu:
- O colosso tinha a cabeça moldada em ouro maciço, os braços e o peito eram de prata, o ventre e as coxas de bronze, as pernas de ferro e os pés...
- ... de barro! - exclamou o rei, dando uma pancada na testa. - Agora me lembro que atiraram uma pedra à estátua.
A pedra caiu nos pés de barro, que se partiram em cacos. A estátua vacilou e desmoronou-se no chão. E depois?
Daniel concluiu o sonho:
- Depois, o ouro, a prata, o ferro e o bronze despedaçaram-se e desfizeram-se em pó, que o vento varreu.
Nada valeu à gigantesca estátua, porque tinha pés de barro...
- O que é que me quis anunciar o sonho? - indagou, com voz trémula, Nabucodonosor.
- Grande e nobre rei, senhor de um império colossal, o sonho anunciou-te o que tu já pressentiste. Todo o poder tem pés de barro. Toda a grandeza é perecível. Toda a majestade há-de transformar-se em pó.
Nabucodonosor despediu com um gesto o escravo Daniel e escondeu a cabeça debaixo do manto, apavorado. Pela primeira vez na vida teve medo de ser rei.
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