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sábado, 7 de maio de 2016

O sonho de um menino que se transformou em uma obra de Deus



Rafael Muñoz era um menino de sete anos que padecia de uma severa deficiência motora. Antes de falecer, desenhou a igreja de seus sonhos, um templo que curiosamente teve quase a mesma forma tempos depois, quando se tornou realidade no Chile.
Esta história remonta a 1972, quando a comunidade da capela Nossa Senhora do Carmo, localizada em Totihue, a 110 quilômetros de Santiago do Chile, começou a celebrar a Missa em um silo (celeiro) que tinha mais de 200 anos.
Apesar de sua deterioração e dos morcegos, os fiéis celebraram ali aEucaristia durante quase 40 anos, até que ocorreu o terremoto de 27 de fevereiro de 2010, data em que deixaram de frequentar o lugar pelo perigo de desmoronamento.
O sacerdote a cargo da capela, Pe. Iván Guajardo, explicou que todos os acontecimentos posteriores ao terremoto foram “obra de Deus”, um tempo que esteve marcado pela Virgem Maria nesta localidade pertencente à Diocese da Rancagua.
“Consagramo-nos a ela e lhe dissemos: tu tens que vir e ficar nesta terra”, contou o sacerdote.
Desde então, sem um lugar fixo onde celebrar a Missa, a comunidade se organizou junto a seu pároco e juntaram dinheiro para reconstruir esse espaço. A surpresa foi ainda major quando contaram com o apoio do projeto “Capelas para o Chile” da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN).
O arquiteto Gonzalo Mardones, conselheiro do AIS e membro honorário do American Institute of Architects nos Estados Unidos, chegou ao local para mostrar o esboço da nova capela que a comunidade teria.
“Quando o arquiteto me mostrou seu esboço lhe disse: Gonzalo, isto não pode ser! Isto é igual, igual ao desenho do menino”, disse o sacerdote a cargo de outras 17 capelas na região.
Alguns meses antes, o sacerdote tinha incentivado as crianças do lugar a sonhar e desenhar como queriam que fosse sua futura capela. O ganhador do concurso que o presbítero organizou foi Rafaelito, como as pessoas chamavam o pequeno Rafael Muñoz.
Em setembro de 2014, a comunidade de Nossa Senhora do Carmo inaugurou o novo espaço composto por uma capela, o silo restaurado que se tornou em sala para velórios e o campanário.
Em meio a essa alegria e 18 meses depois, a obra arquitetônica recebeu o prêmio de melhor projeto espiritual do mundo, AR Faith 2016, reconhecimento outorgado pela revista londrina Architectural Review.
O arquiteto Gonzalo Mardones, que trabalhou também na Argentina, Equador, Peru e Alemanha, recebeu o reconhecimento “como um presente imenso” de um menino “que partiu tão cedo e que imaginou a capela de sua comunidade tal qual está construída”.
“Rafaelito foi o menino arquiteto que do céu inspirou esta obra. Foi uma experiência impressionantemente forte e linda de uma vez. (…) Nunca pensamos que esta humilde capela seria premiada”, disse o Pe. Guajardo ao Grupo ACI.
A construção realizada com as “formas básicas da geometria”, “é muito singela e está resolvida de forma muito contemporânea, com um respeito muito grande por esse lugar”, explicou, por sua vez, o arquiteto Mardones.
Vista do céu, aprecia-se o silo, como “circunferência que simboliza a obra divina de Deus”, a capela em forma de “retângulo” e o campanário cuja torre é um “quadrado considerando a obra do homem, povo de Deus, uma vez que o ângulo reto é o único que não está na natureza”, disse o arquiteto.
O silo tem 10 metros de diâmetro e 10 metros de altura. Diante dele foi construída a capela de sete metros de altura, na qual cabem cem pessoas sentadas, e um campanário da mesma altura.

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